Os
tempos de hoje são perturbadores. No entanto, imersos em afazeres e obrigações
(criadas por nós mesmos), nem somos capazes de perceber o que se passa. Picamos
o tempo em pedacinhos, por crer que podem facilitar nosso dia a dia, permitir
que "todos os compromissos sejam cumpridos". Nessa corrida,
esquecemo-nos do significado da qualidade do tempo em vida, com amor de sobra,
ao lado de família e outros queridos nossos. Somos capazes de abandonar e
descartar o que consideramos supérfluo, tanto em matéria quanto em espírito, e
deixamos de nutrir sentimentos que nos tornam humanos e completos. Um mundo em
que o centro é o capital, em que a racionalidade técnica dominou. Um mundo que deixou
de oferecer mistério, pois acostumamo-nos a esgotar todas as possibilidades por
meio da razão. Deixamos de enxergar a poesia e ouvir o canto dos passarinhos.
Ouvimos barulho de motores de carros ou de televisão. Deixamos de sentir
perfume no jardim e de bolo de chocolate assando no forno. Passamos na confeitaria
e compramos pronto. O tempo é escasso. Não podemos perdê-lo. Estranha forma de
levar os dias. Estranha nostalgia de tempo que podia passar mais devagar.